segunda-feira, 13 de junho de 2011

Suíça tem presença marcante na Bienal de Veneza

A Suíça dá as cartas na Bienal de Artes de Veneza. Não só pela presença da curadora suíça Bice Curiger - idealizadora do tema ILLUMInazione-ILUMInations- mas, também, pelo prêmio da quermesse à melhor obra.

 

O vencedor do Leão de Ouro foi o artista de dupla nacionalidade, nascido nos Estados Unidos e crescido na Suíça, Christian Marclay, com uma vídeo-instalação denominada “The Clock”.

A obra de Christian Marclay projeta, durante 24 horas reais, um vídeo com imagens da passagem e da observação dos ponteiros dos relógios em cena no cinema. Desta forma cria-se um diálogo entre o tempo real do espectador e o tempo ilusório da sétima arte.

E era exatamente a interação entre a obra e o visitante que a curadora Bice Curiger queria resgatar no mundo da arte. Para isso, com ousadia, ela partiu dos quadros do pintor veneziano Jacopo Tintoretto, do século 16, considerado um mestre da luz. Três telas monumentais iluminam a entrada do Pavilhão Central  para a mostrar as obras contemporâneas.
A exposição deste ano é um divisor de águas na cidade que parece flutuar entre o mar Adriático e o céu do Mediterrâneo. A arte verdadeira deve ter a força de atrair a reflexão do observador.

As esculturas, os vídeos, as pinturas, as fotografias e as instalações precisam possuir a capacidade de capturar a atenção do espectador sem maiores e gratuitas agressões visuais. E eis que surgem as obras invisíveis, como a do suíço Bruno Jakob, radicado nos Estados Unidos., cobrindo folhas de papel com vapor de água, como suor ou lágrimas, criando figures abstratas. 

Exposição

 

A histórica desordem luminosa de Tintoretto e as indagações da arte de hoje encontram-se em Veneza, durante a Bienal. No Arsenal e nos Jardins, a arte “made in Curiger” é, por exemplo, um mosaico de 82 artistas, dos quais 9 são suíços. Dois deles se aproximaram do modelo proposto pela curadoraria da Bienal: Urs Fisher e Pippilot Rist.

Ao melhor estilo da arte que inspira a arte,  ambos usaram obras do passado como pontos de partida. Urs Fischer criou uma instalação com três peças de parafina. Uma elas reproduz a famosa escultura “ O Rapto das Sabinas”, do século 16. As outras duas são formadas pela estátua de cera, em tamanho natural, de um espectador que admira a obra, mas que derrete lentamente graças a uma vela acesa sobre a cabeça.  O mesmo acontece com uma poltrona.

A decisão de rever um clássico do Renascimento com os próprios olhos obriga o visitante a entrar e fazer parte da instalação. Já a artista Pippilot Rist usou as pinturas “vedutistas” (que reproduz uma paisagem como se fosse uma pintura, comum no século XVIII) . Uma série de vídeos registra essa forma de arte de trezentos anos atrás, mas acrescida com cenas do cotidiano atual. A sobreposição de imagens da própria cidade de Veneza de ontem e de hoje cria um belo efeito visual.  O resultado é uma espécie de quadro em movimento que da a impressão de superar o tempo.

A consequência deste enfoque é o diálogo entre o espectador e o artista como canal de comunicação e instrumento de reflexão. A valorização deste aspecto da Bienal promove a interatividade sem cair na armadilha da banalização, do populismo barato. “ Eu cresci na cultura pop, mas acho que a arte precisa ser resgatada. Acho importante a popularidade da cultura, sem o uso populista dela. Quero evitar a vulgarização da arte”, afirma Bice Curiger. Isto não significa a defesa de uma arte elitista. 

Suíços oficiais

 

Maior autonomia e liberdade de ação, sem passar pelo crivo da curadora da Bienal, estão as obras de Thomas Hirschhorn, no Pavilhão Suíço, e Pauline Boudry, Renate Lorenz, Tim Zalauf/KMUProductionen, no teatro Fondamenta Novo. Elas foram selecionadas pelos curadores nacionais Urs Staub e Andrea Thal. Em ambos os casos, a exemplo de outros países, estas exposições formam uma grande mostra paralela à principal, no Arsenal.

Crystal of Resistence, obra do artista Thomas Hirschhorn, questiona a arte a partir da estrutura de um cristal realizada em plástico transparente que cobre resíduos recicláveis da sociedade moderna, como restos de celulares, fósseis da era da comunicação.

Todo o espaço do Pavilhão foi tomado por objetos sem vida. Já “Chewing the Scenery”, com dois filmes e várias “perfomances” artísticas, aborda o tempo influenciado pelos atrasos e interrupções. Menos visíveis, embora notadas, estão as bandeiras criadas por diversos artistas a pedido dos Institutos Suíços de Cultura de Roma e Nova York.

 Elas quase se mimetizam com as roupas dos venezianos que secam em varais atravessados nas ruas, de um lado a outro. Se as camisas e calças bailam ao vento sem maiores compromissos sociais e políticos, as bandeiras estilizadas contém mensagens contra a violência e por um mundo melhor.

Guilherme Aquino, swissinfo.ch
Veneza

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