Para a teóloga Doris Strahm, o monopólio masculino na Igreja Católica Romana é uma simples questão de poder.
É o que afirma em entrevista exclusiva à swissinfo.ch. Ela é coautora
de um estudo sobre a mulher em cargos de liderança no Judaísmo,
Cristianismo e Islamismo.
Talvez todos sejam iguais perante Deus, mas existem determinadas
comunidades religiosas que não consideram isso. É o que mostra o estudo
"Rabinas, cantoras, imames, pastoras, bispas, conselheiras
eclesiásticas...", publicado pela Usina Inter-religiosa de Ideias, um
grupo institucional independente de expoentes do diálogo
inter-religioso.
O estudo levou em consideração três correntes religiosas no Judaísmo, na Igreja Reformada e na Igreja Católica Romana e no Islamismo na Suíça. Assim como nas comunidades judaicas liberais e nas comunidades protestantes, as mulheres podem assumir postos de liderança espiritual.
O estudo levou em consideração três correntes religiosas no Judaísmo, na Igreja Reformada e na Igreja Católica Romana e no Islamismo na Suíça. Assim como nas comunidades judaicas liberais e nas comunidades protestantes, as mulheres podem assumir postos de liderança espiritual.
swissinfo.ch: O estudo mostra que na Igreja Católica Romana trabalham muitas mulheres, porém elas não estão autorizadas a assumir postos de liderança espiritual. Por que o padre na Igreja Católica precisa ser necessariamente um homem?
Doris Strahm: A Igreja Católica argumenta que Jesus convocou apenas
homens para serem apóstolos e também pela tradição católica. Esse é um
argumento sem bases, pois Jesus era judeu e nunca fundou uma igreja. O
sacerdócio só surgiu no século cinco.
Mesmo a Comissão Papal Bíblica concluiu em 1976, ao ser levantada essa questão, que a exclusão de mulheres do sacerdócio não pode ser fundamentada na Bíblia.
Até os anos 1980, se argumentava que as mulheres não podiam ser ordenadas padres devido o caráter sacramental do sacerdócio: os padres representariam em suas funções religiosas Cristo, que era um homem. Portanto padres necessitariam ser do sexo masculino.
Mesmo a Comissão Papal Bíblica concluiu em 1976, ao ser levantada essa questão, que a exclusão de mulheres do sacerdócio não pode ser fundamentada na Bíblia.
Até os anos 1980, se argumentava que as mulheres não podiam ser ordenadas padres devido o caráter sacramental do sacerdócio: os padres representariam em suas funções religiosas Cristo, que era um homem. Portanto padres necessitariam ser do sexo masculino.
swissinfo.ch: Existem outros critérios além do sexo?
D.S.: Não existe nenhum outro critério especial além do sexo. Padres recebem a mesma formação teológica do que as teólogas.
Em minha opinião, a importância do sexo masculina está relacionada à formação patriarcal da nossa cultura e, especialmente, à teologia cristã: figurações masculinas de Deus como Pai, Senhor, Criador, Juiz e um Salvador masculino.
O homem se transformou no padrão da condição humana e retrato de Deus e a mulher, do ponto de vista da criação, subordinada ao homem. Tudo isso cimenta a visão de que o homem está mais próximo de Deus do que a mulher. Os chefes da Igreja, que detém o poder da palavra, ainda parecem estar convencidos disso. Ocorre aqui simplesmente uma questão de poder.
Em minha opinião, a importância do sexo masculina está relacionada à formação patriarcal da nossa cultura e, especialmente, à teologia cristã: figurações masculinas de Deus como Pai, Senhor, Criador, Juiz e um Salvador masculino.
O homem se transformou no padrão da condição humana e retrato de Deus e a mulher, do ponto de vista da criação, subordinada ao homem. Tudo isso cimenta a visão de que o homem está mais próximo de Deus do que a mulher. Os chefes da Igreja, que detém o poder da palavra, ainda parecem estar convencidos disso. Ocorre aqui simplesmente uma questão de poder.
swissinfo.ch: Qual a imagem da mulher que está por trás disso?
D.S.: Por trás da discriminação da mulher na Igreja Católica romana
está a compreensão patriarcal do culto da pureza original da mulher, uma
imagem do poder feminino da sedução sexual e a opinião que a mulher,
frente aos olhos de Deus, tem menos importância do que o homem. São
crenças que a Igreja ainda não superou.
swissinfo.ch: Como é possível que duas igrejas, cuja doutrina tem as mesmas bases, tenham considerações absolutamente distintas na questão da ordenação de mulheres como padres?
D.S.: Isso mostra que não existe uma base bíblica e teológica para
excluir as mulheres do sacerdócio. São exatamente as mesmas fontes em
que se baseiam os protestantes. É a mesma tradição e é o mesmo Salvador.
swissinfo.ch: Em seu estudo (página 38) pode se ler: a pessoa que ordena uma mulher comete, segundo as leis eclesiásticas, um crime tão grave como o do Padre que abusa de menores de idade. Como é possível justificar esse julgamento de valores?
D.S.: A única explicação reside no poder que exerce a Santa Igreja
Católica de domínio masculino, para a qual nada é mais sagrado do que
preserva o sacerdócio nas mãos dos homens. Eu considero que essa
comparação, além de ser cínica, é uma bofetada dupla no rosto.
swissinfo.ch: Nas comunidades católicas trabalham muitas mulheres. Nessas funções elas teriam alguma possibilidade de influenciar as estruturas internas da Igreja?
D.S.: Elas não têm nenhuma forma de influenciar as estruturas da
Igreja, pois estão excluídas do sacerdócio. E o sacerdócio é uma
exigência para ascender a todos os cargos com poder de direção, decisão e
doutrinação.
swissinfo.ch: Como a senhora avalia o Catolicismo em comparação a outras religiões incluídas no seu estudo?
D.S.: O sacerdócio reservado exclusivamente aos homens é uma
particularidade da Igreja Católica Romana. Da mesma maneira que a
hierarquia eclesiástica se atribui o direito exclusivo de definir os que
estão distante do poder, alegando a vontade divina. Eles se defendem
quando simplesmente afirmam "que Jesus assim o quis".
Em outras religiões, pelo menos, não justificam a exclusão das mulheres dos cargos de direção com a áurea divina.
Em outras religiões, pelo menos, não justificam a exclusão das mulheres dos cargos de direção com a áurea divina.
swissinfo.ch: Em seu estudo fala-se de uma igreja feminina, que seria criada paralelamente às estruturas patriarcais e hierárquicas. Como é possível entender isso?
D.S.: Desde os anos 1980 as mulheres deixaram de gastar energia na
luta contra as estruturas, e se contram em suas aspirações religiosas.
Elas reivindicam a Igreja para si também. É um movimento supra
confessional mundial de mulheres críticas.
swissinfo.ch: A senhora vê uma chance em que a Igreja Católica Romana evlua mais em direção à igualdade de sexos?
D.S.: De cima, dentro dos círculos oficiais da Igreja Católica, não
vejo essa evolução. Se algo deve mudar, isso precisa ocorrer nas bases.
As bases religiosas devem ter coragem para procurar o seu próprio
caminho e quebrar o centralismo de Roma.
Eveline Kobler, swissinfo.ch
Adaptação: Alexander Thoele
Adaptação: Alexander Thoele
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