domingo, 30 de janeiro de 2011

Mohamed ElBaradei junta-se a manifestantes em praça no Cairo

Prêmio Nobel da Paz desobedece toque de recolher imposto pelo governo.
Opositor foi encarregado de negociar com o regime do presidente Mubarak.

 

  O opositor Mohamed ElBaradei, encarregado de negociar com o regime do presidente Hosni Mubarak, juntou-se na noite deste domingo (30) à multidão que se concentra na Praça Tahrir,  para pedir a renúncia do presidente. O local é o centro de protestos na cidade. ElBaradei desobedeceu o toque de recolher que começou às 16h (12h, em Brasília).

  Ele  prometeu aos manifestantes que "a mudança chegará".  "Vocês reconquistaram seus direitos e o que começamos não pode ter volta", discursou aos milhares de manifestantes presentes. "Temos uma demanda principal - o fim do regime e o começo de um novo estágio, um novo Egito".

  O Prêmio Nobel da Paz saiu de um carro perto da praça, cujo acesso era controlado por soldados em tanques de guerra. Ele caminhou rodeado por manifestantes que gritavam "O povo quer a queda do presidente" e "Vamos sacrificar nossa alma e nosso sangue pelo país".

  As forças de oposição do Egito, lideradas pela Irmandade Muçulmana, encarregaram o dissidente Mohamed ElBaradei de negociar com o regime do presidente Mubarak, alvo dos protestos que já duram seis dias e paralisaram o país. A decisão foi divulgada neste domingo (30) por Saad al-Katatni, um dos líderes do movimento islamita.

  Veja as imagens dos protestos no Egito

  A Coalizão Nacional por Mudança, que reúne vários movimentos de oposição egípcios - incluindo a Irmandade Muçulmana, que foi proscrita pelo governo - escolheram o Prêmio Nobel da Paz para representá-los "nas negociações com as autoridades", disse al-Katatni a agência de notícias Reuters.
Logo após a confirmação, ElBaradei disse que o presidente Hosni Mubarak deve deixar o cargo neste domingo para abrir caminho para um governo de unidade nacional em uma eleição "livre" e "justa". ElBaradei disse também que a política dos Estado Unidos no Egito está perdendo a credibilidade.

  Hillary Clinton fala em 'transição ordenada do poder no Egito'

  A secretária do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, disse neste domingo que os EUA querem uma transição ordenada do poder no Egito. "Nós queremos ver uma transição ordenada para que ninguém preenche um vazio, que não haja um vazio, que haja um plano bem pensado, que trará um governo democrático e participativo", disse Hillary ao programa "Fox News Sunday ".
De acordo com Hillary, o país não quer que uma tomada de poder no Egito abale a democracia e conduza o povo à opressão.

  O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, conversou nesta sexta-feira com o presidente egípcio, Hosni Mubarak, e pediu que ele respeite os direitos da população e evite o uso de violência contra manifestantes pacíficos.

  Governo cativa militares

  Por sua vez, Mubarak visitou um quartel-general e reuniu os comandantes de alta patente neste domingo (30). A reunião foi divulgada pela televisão estatal. A emissora mostrou Mubarak em reunião com o recém-nomeado vice-presidente Omar Suleiman, o ministro da Defesa, Mohamed Hussein Tantawi, o chefe de gabinete Sami al-Anan e outros.

  A agência oficial de notícias divulgou que Mubarak conferiu também o trabalho das Forças Armadas no comando das operações de segurança.

  A ofensiva política do governo consiste em cativar os militares. Por isso, o ex-ministro da Aviação Civil, Ahmad Shafic, foi confirmado pelo governo como primeiro-ministro. Shafic, que é um ex-comandante da Força Aérea, será o responsável por formar o novo gabinete de ministros, que foi dissolvido neste sábado.

  Além disso, o presidente egípcio, que não escolheu um vice-presidente desde sua posse em 1981, nomeou o seu chefe de inteligência e confidente Omar Suleiman, para o cargo. Muitos viram a nomeação como o fim das pretensões do filho do presidente, Gamal, de assumir a presidência.

  Hosni Mubarak recusa-se a deixar o cargo, apesar da pressão da população. Como reforço à posição do presidente, o Parlamento egípcio anunciou neste sábado que não tem planos para antecipar as eleições.

  Mubarak mandou também soldados e tanques para a capital Cairo e para outras cidades. O envio de tropas do exército para ajudar a polícia mostrou que Mubarak ainda tem o apoio dos militares, a força mais poderosa do país. Porém, qualquer mudança de opinião dos generais poderá selar o seu destino.

  Líder espiritual muçulmano defende renúncia

  A tensão aumenta ainda mais com a posição do xeque Yusef Al Qardaui a favor da renúncia do presidente Hosni Mubarak. O egípcio Yusef Al Qardaui é considerado o pregador mais influente do mundo árabe. Em entrevista à televisão Al Jazeera, o líder afirmou que a renúncia poderia resolver a crise no Egito.

  "Mubarak, tenha misericórdia sobre essas pessoas e fuja antes que a destruição se estenda no Egito", afirmou o teólogo sunita que lidera a União Mundial de Sábios Muçulmanos e é um dos líderes espirituais da Irmandade Muçulmana no mundo.

  TV Al-Jazeera é proibida de atuar no país

  O ministro da Informação do Egito, Anas El Feki, proibiu neste domingo (30) a rede de televisão Al-Jazeera de operar no país. O anúncio foi feito pela agência oficial Mena. A maior emissora de televisão do Qatar fazia uma ampla cobertura das manifestações contra o regime do presidente Hosni Mubarak. Ela transmitia em tempo real o movimentos nas ruas das principais cidades egípcias, Cairo, Alexandria e Suez, com comentários em inglês e árabe.

  Em comunicado, a Al -Jazeera afirmou que a decisão das autoridades do Egito de proibir a cobertura das manifestações tem como objetivo "silenciar o povo egípcio".

  Até agora, pelo menos 100 pessoas morreram no Egito desde o começo das manifestações contra o governo do presidente Hosni Mubarak, na última terça-feira (25). O número foi apurado pelas agências de notícias Reuters e France Presse com fontes de segurança e médicas. Ainda não há dados oficiais sobre as vítimas.

  A embaixada dos Estados Unidos no país aconselhou neste domingo os americanos a deixar o Egito o mais rapidamente possível. "Os voos para os pontos de evacuação começarão a deixar o Egito na segunda-feira, 31 de janeiro", declarou a embaixada em comunicado.

  Toque de recolher

  Milhares de egípcios desobedeceram o toque de recolher estabelecido para este sábado e domingo (30), apesar de as Forças Armafdas terem exigido que os manifestantes obedecessem a ordem. Houve relatos de saques e habitantes de subúrbios ricos do Cairo relataram a chegada de veículos militares nestas localidades, com o objetivo de impedir novos ataques.

  O toque de recolher começou às 16h (12h, em Brasília) e terminou às 8h de domingo (4h, em Brasília) no Cairo e nas cidades de Alexandria e Suez.

  A brasileira Larissa Amorim, que mora nos arredores da capital, contou à BBC que o medo era muito grande na sua vizinhança devido aos saques que ocorriam na cidade. "Meu marido foi à rua juntamente de outros homens do bairro com facas e bastões para proteger as propriedades", contou ela, que é casada com um egípcio e mora no país desde 2007.

  "Nós estamos muito nervosos, mas os moradores falaram que, por enquanto, não havia sinais de distúrbios na área."

  A rede de TV CNN exibiu imagens de pessoas armadas nas ruas do Cairo. Portando rifles, pistolas e outros instrumentos mais simples, como bastões e até tubos de aspirador de pó, eles tentavam espantar grupos que circulam em motos, supostos saqueadores.

  Prédios do governo também foram alvos de tentativas de invasão, que deixaram dezenas de feridos. Os militares disseram que vão agir 'com firmeza' para restabelecer a ordem e impor o toque de recolher. Em uma prisão no Cairo, os detentos armaram uma tentativa de fuga em massa, que foi contida. Oito presos morreram.

  A brasileira Rossana dos Santos, que mora em Alexandria, outra cidade sob toque de recolher, disse, em entrevista à Globonews (veja vídeo acima), que ali também há homens armados tentando proteger os edifícios.

  Depois da oficialização da estratégia anunciada nesta sexta-feira, o presidente egípcio, que não escolheu um vice-presidente desde sua posse em 1981, nomeou o seu chefe de inteligência e confidente Omar Suleiman, para o cargo. Dessa forma, o presidente garante aliados militares no novo governo a ser formado.


  Conflitos violentos

  Entre os conflitos mais intensos deste sábado está a tentativa de invasão ao prédio do Ministério do Interior, quando pelo menos três pessoas foram mortas pela polícia. Antes disso, fontes de segurança disseram à Reuters que pelo menos seis pessoas, incluindo um policial, havia sido mortas.

  Neste sábado, fontes médicas disseram à agência que cerca de 2 mil pessoas ficaram feridas em todo o país, porém com mais protestos em movimento, esse número pode aumentar. Pelo menos trinta corpos foram levados para o hospital de El Damardash no centro do Cairo nesta sexta-feira.A Associated Press apurou que o total de mortes desde o início das manifestações, que começaram nesta semana, já soma 35 pessoas, o que inclui 10 policiais.

  Manifestantes egípcios atacaram também neste sábado um prédio na sede da Segurança de Estado da cidade de Rafah. Pelo menos três policiais morreram com a explosão. A cidade, localizada na Faixa de Gaza, fica na fronteira com o Sinai, no Egito.

  A explosão aconteceu após manifestantes beduínos lançarem granadas contra o prédio, durante confrontos com a polícia. Os policiais reagiram com tiros durante o protesto. O edifício está localizado perto da fronteira de Rafah e, de acordo com testemunhas, está a ponto de desabar.

  Por causa da violência, o governo de Israel decidiu repatriar as famílias dos funcionários da delegação diplomática no Cairo e outros israelenses que estavam na cidade.


  Ataque ao Ministério do Interior

  O exército egípcio guarda a sede do Ministério do Interior, no centro do Cairo, neste domingo. Dois carros blindados e um tanque montavam guarda na frente do edifício, que foi evacuado por causa de ataque de manifestantes neste sábado.

  A polícia abriu fogo contra cerca de mil manifestantes egípcios que tentavam invadir o Ministério do Interior. A reação teria acontecido após um grupo de pessoas atirar contra o prédio e só parou quando tanques de guerra foram enviados ao local. Na ação, a polícia teria matado pelo menos três manifestantes, de acordo com a rede de televisão Al Jazeera.

  O Exército tenta restaurar a ordem em meio a saques depois que as forças de segurança retiraram as seguintes ruas enormes manifestações na semana passada.

  Também no Cairo,  tanques do exército egípcio e tiros disparados no ar foram usados neste para controlar pessoas que tentavam atacar a entrada do prédio do Banco Central, onde é impresso o papel moeda. Os manifestantes usavam pedaços de madeira e desistiram da abordagem depois de ouvir os tiros.

  Ministros renunciaram

  O gabinete de ministros do Egito anunciou oficialmente a renúncia neste sábado após dias de protestos da população contra o governo de Hosni Mubarak. Porém, a mudança não será suficiente para conter a onda de protestos no país.

  O líder opositor Mohamed ElBaradei, afirmou que Hosni Mubarak terá de sair. Segundo ele, o discurso do presidente televisionado na sexta-feira foi "praticamente um insulto à inteligência das pessoas." El Baradei, chefe da Assembleia Nacional para a Mudança, chegou na última quinta-feira (27) ao Cairo.


  Telefonia móvel é parcialmente restaurada

  O serviço de telefonia móvel foi parcialmente restaurado no Egito na manhã deste sábado. O serviço, assim como o acesso à internet, foi interrompido na tentativa de impedir as manifestações hostis ao regime.

  Internet e telefones móveis desempenharam um papel fundamental na organização de manifestações contra o regime de Hosni Mubarak, liderados por jovens pró-democracia. Eles se inspiraram na Revolução dos Jasmins, que em 14 de janeiro, derrubaram o ditador Zine El Abidine Ben Ali.

  O Departamento de Estado dos EUA pediu que o país garanta o acesso às comunicações e respeite direitos inidividuais durante os protestos.

  












fonte de pesquisa: www.G1.com

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