sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Crise no EUA


Estamos vivendo uma época interessante – e digo interessante no pior sentido da palavra. Neste momento nós não nos deparamos com apenas uma, mas sim com duas crises que se aproximam, e qualquer uma das duas é capaz de provocar um desastre global. Nos Estados Unidos, fanáticos de direita no congresso poderão bloquear uma necessária elevação do teto da dívida, algo que teria o potencial para provocar o caos nos mercados financeiros mundiais. Ao mesmo tempo, se o plano que acaba de ser aprovado pelos chefes de Estado europeus não for capaz de acalmar os mercados, nós poderemos presenciar um verdadeiro efeito dominó em todo o sul da Europa – um fato que também semearia o caos nos mercados financeiros mundiais.
Só podemos torcer para que os políticos em Washington e em Bruxelas consigam repelir esses perigos. Mas o problema é que, mesmo se conseguirmos evitar uma catástrofe imediata, é quase certo que os acordos que estão sendo negociados em ambos os lados do Oceano Atlântico venham a agravar a crise financeira global.
Na verdade, os legisladores parecem estar determinados a perpetuar este fenômeno ao qual eu costumo me referir como a Depressão Menor, a era prolongada de alto desemprego que teve início com a Grande Recessão de 2007 a 2009 e que continua até hoje, mais de dois anos após a suposta data do fim da recessão.
A grande bolha imobiliária da última década, que foi um fenômeno tanto norte-americano quanto europeu, foi acompanhada de um aumento enorme da dívida relativa a hipotecas. Quando a bolha estourou, a construção de imóveis despencou, e os gastos dos consumidores também caíram, já que as famílias, sobrecarregadas por dívidas, reduziram o seu consumo.
Mesmo assim, tudo poderia ter corrido bem se outros atores econômicos importantes tivessem aumentado os seus gastos, preenchendo a lacuna provocada pela queda no setor de construção e pela redução dos gastos do consumidor. Mas ninguém fez tal coisa. É especialmente importante observar que as corporações repletas de dinheiro não veem motivos para investir esse capital devido à fraca demanda dos consumidores.
E os governos também não fizeram muita coisa para ajudar. Alguns governos – aqueles dos países mais fracos da Europa, bem como governos estaduais e municipais nos Estados Unidos – foram na verdade obrigados a cortar os gastos devido à queda das arrecadações. E as medidas modestas tomadas por governos mais fortes – incluindo, sim, o plano de estímulo econômico de Obama – foram, na melhor das hipóteses, suficientes apenas para compensar essa austeridade forçada.
Portanto, o que temos agora são economias deprimidas. E o que os legisladores estão propondo fazer quanto a isso? Simplesmente nada.
O desaparecimento da questão do desemprego do discurso político da elite e a sua substituição pelo pânico do déficit foi algo verdadeiramente notável. Isso não foi uma resposta à opinião pública. Em uma recente pesquisa de opinião CBS News/New York Times, 53% dos entrevistados afirmaram que a economia e o desemprego são os problemas mais importantes enfrentados por nós, enquanto que apenas 7% mencionaram o déficit. E não se trata também de uma resposta à pressão do mercado. As taxas de juros sobre a dívida dos Estados Unidos continuam próximas a recordes historicamente baixos.
Mas as conversações em Washington e em Bruxelas dizem respeito apenas a cortes de gastos (e talvez a aumentos de impostos, ou seja, revisões). Isso é sem dúvida verdade no que se refere a várias propostas que estão sendo apresentadas para resolver a crise do teto da dívida aqui nos Estados Unidos. Mas isso também está ocorrendo na Europa.
Na última quinta-feira (21/07), os “chefes de Estado ou governo da área do euro e as instituições da União Europeia” - esse palavreado extenso demonstra por si próprio como se tornou bagunçada a governança europeia – fez a sua grande declaração. Uma declaração que não foi nada tranquilizadora.
Até mesmo porque é difícil acreditar que essa engenharia financeira complicada proposta na declaração possa de fato resolver a crise grega, e muito menos a crise europeia mais ampla.
Mas, mesmo se puder, o que ocorreria depois? A declaração pede que reduções drásticas de déficits “em todos os países, com a exceção daqueles que se encontrem sob um programa”, sejam implementadas “até 2013, ao mais tardar”. Como os países “sob um programa” estão sendo obrigados a promover uma drástica austeridade fiscal, isso equivale a um plano para fazer com que toda a Europa corte os gastos ao mesmo tempo. E não existe nada nos dados europeus que indique que o setor privado está pronto para compensar os resultados de tal medida em menos de dois anos.

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