sábado, 18 de junho de 2011

Binner, o suiço que pretende governar a Argentina

O socialista Hermes Binner, neto de imigrantes suiços do Valais (sudoeste) no século 19, acaba de anunciar sua candidatura à presidência da Argentina.

 

Se triunfar nas eleições de 23 de outubro, Binner será o primeiro presidente da Argentina que conserva a nacionalidade suíça.

Na tarde de 11 de junho último, aconteceu o que muitos argentino (e muitos suíços e descendentes de suíços na Argentina) estavam esperando: Hermes Binner, que em 2007 foi o primeiro governador socialista de um país sul-americano, anunciou oficialmente sua candidatura à presidências nas eleições previstas para 23 de outubro próximo.

Apoiado por uma frente progressista, Binner – reconhecido por sua trajetória política, transparência em sua gestão e um perfil discreto – decidiu tentar aplicar no plano federal um projeto de centro-esquerda que vem cultivando com êxito há duas décadas na província de Santa Fé.

Uma fórmula federal

 

O candidato socialista, que aposta em um governo federal e participativo, escolheu a senadora Norma Morandini, de Córdoba, para vice-presidente.

“Estou contente porque estamos trazendo uma fórmula do interior e creio que faz bem à Argentina ter uma polaridade com a capital federal. Estamos muito contentes de poder levar adiante uma fórmula que integre a partir do coração da região central”, declarou Binner.

Mesmo que sua frente política ainda não tem nome oficial, é composta pelos partidos Geração para um
Encontro Nacional (GEN), de Margarita Stolbizer, que será candidata a governadora da província de Buenos Aires; Projeto Sul, de Fernando ‘Pino’ Solanas, candidato a Chefe de Governo portenho; o Partido Novo, liderado pelo senador Luis Juez e candidato a governador dessa província; e Unidade Popular, herdeiro histórico da Central dos Trabalhadores da Argentina Vitor de Gennaro, entre outros.

Binner definiu “progressismo” com as palavras segurança, justiça, pão e, entre outras, infância.
 
“A Argentina vive em abundancia econômica com uma desigualdade sem precedentes”, acrescentando que o socialismo governou “em pequenas cidades e províncias e nunca se conheceu um caso de corrupção”.

Disse ainda que no programa progressista em elaboração, discute-se para saber o que fazer “para que as pessoas vivam melhor e possam crescer econômica e socialmente”.

 “Estamos no começo de uma construção”, afirmou, indicando que sua candidatura transcende a eleição de outubro.

"Os números não me preocupam"

 

Como se tentassem desencorajá-lo out está-lo, várias perguntas dos jornalistas feitas durante o anúncio de lançamento da candidatura presidencial giraram em torno de ser pouco conhecido em escala nacional.

Binner respondeu que esse fato não lhe preocupa e lembrou que quando fundaram a Frente Progressista em Santa Fé diziam exatamente a mesma coisa. Porém, “a perseverança permitiu formular propostas, eleger deputados, senadores e finalmente governar a província".

Pragmático e pertinente em suas análises, Binner afirma que além dos números da oposição existem outros dados de reconhecidos consultores que davam, antes de anunciar a candidatura, mais de 13% das intenções de voto.

Uma pesquisa nacional realizada pela consultoria
OPSM no início de junho dava a presidente Christina Kirchner (Frente Popular para a Vitória (FpV) com 40,8%; o candidato da União Cívica Radical (UCR) Ricardo Alfonsin (aliado ao empresário Francisco de Narvález da União Celeste e Branca, uma frente de centro-direita) com 14,6%, e Binner com 13,4%.

O analista político Julio Burdman explica à swissinfo.ch que “uma das vantagens de Binner nesta conjuntura é não ser muito conhecido no plano nacional, porque lhe da potencial de construção de imagem. Ele tem melhores credenciais para ser presidente do que o filho de Alfonsín e isso se verá durante a campanha”. 

Terceira força ou fenômeno eleitoral?

 

Enquanto dentro da coalisão se aposta  que a inquestionável gestão política de Binner em Santa Fé, lhe abrirá as portas da Casa Rosada, para outros, a candidatura de Binner é um testemunho.

Rosendo Fraga, conhecido analista político argentino, defende que o socialista pode ser a terceira força atrás do candidato radical consolidado em segundo lugar, hipótese até agora aventada pelos principais jornalistas políticos do país.

No entanto, “ainda não está bem definido que está em segundo lugar, atrás de Cristina Kirchner”, precisa Burdman.

Ele lembra o que ocorreu em 1995, quando um candidato improvável se lançou na campanha e chegou em segundo lugar atrás do ex-presidente Carlos Menen. Tratava-se do então governador de Mendoza, José Octavio Bordón, que liderava a Frente País Solidário (FrePaSo), progressista e similar à que agora lidera Binner.

“A UCR continua em crise e isso é uma oportunidade histórica para o centro-esquerda não peronista. Creio que Hermes Binner entende isso”.

Com as cartas na mesa, se Binner chegar a vencer dia 23 de outubro, seria o primeiro presidente da Argentina que conserva a cidadania suíça e o terceiro, depois de Carlos Pellegrini e Néstor Kirchner, com raízes helvéticas.

O primeiro foi Carlos Pellegrini, que governou o país de 6 de agosto de 1890 a 12 de agosto de 1892. O segundo, o falecido Néstor Kirchner, foi presidente da Argentina de 25 de maio de 2003 até 10 d dezembro de 2007.

Norma Domínguez, swissinfo.ch
Buenos Aires
Adaptação: Claudinê Gonçalves

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