domingo, 28 de novembro de 2010

PM: com óculos de visão noturna, Bope está pronto para invadir

27 de novembro de 2010 23h41

Moradores deixam casas no Complexo do Alemão
Foto: AFP
Os policiais do Bope estão preparados, equipados com óculos de visão noturno, para uma possível invasão do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, nesta noite ou durante a madrugada de domingo. As informações são da assessoria de comunicação da Polícia Militar (PM). Neste sábado, a polícia deu um ultimato aos traficantes que estão no complexo para que se entreguem.

O coronel Lima Castro, relações públicas da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro, disse neste hoje que o prazo para que os traficantes do complexo do Alemão se entreguem acaba no fim do dia. Castro diz que a decisão sobre uma possível invasão é da Secretaria de Segurança Pública.

O relações públicas da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro, Coronel Lima Castro, afirmou na tarde deste sábado, que a polícia está preparada para uma invasão noturna ao Complexo do Alemão, na zona norte. Segundo Lima Castro, a entrada de policiais e militares depende apenas de uma ordem da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro.

"No momento em que o sol se por, acabou a negociação", afirmou Lima Castro na ocasião, acrescentando que as forças policiais possuem superioridade numérica e tática em relação aos bandidos. No momento, óculos de visão noturna estão sendo distribuídos aos policiais que cercam o Complexo do Alemão.

"Temos treinamento e equipamento de visão noturna e estamos preparados para entrar no Complexo há qualquer momento. Só dependemos de uma decisão da Secretaria de Segurança Pública. A noite nos favorece". Segundo Lima Castro, esta é a última oportunidade que os traficantes têm para entregar. Ele fez um apelo para que parentes dos bandidos convençam seus familiares a se entregarem.

"Entreguem seus filhos, convençam seus filhos a se entregarem. Nós não queremos um banho de sangue", disse. De acordo com o coronel, a polícia já sabe que os bandidos estão desgastados e não tiveram reposição das armas utilizadas contra os policiais. Neste momento, a inteligência da polícia estima que existam entre 500 e 600 traficantes no interior do Complexo do Alemão e que os mesmos não teriam acesso a água e comida desde que o cerco teve início.

"Tudo é favorável às Forças Armadas. Nós não queremos esse tipo de enfrentamento, mas se formos chamados à guerra, nós responderemos à altura". Por volta das 19h, o comandante geral da Polícia Militar, Mario Sergio de Brito Duarte, estava reunido com o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, para definir as estratégias de invasão ao Complexo de favelas do Alemão.

Na manhã deste sábado, o comandante já havia dado um ultimato para que os traficantes se entregassem sem resistência e orientou os moradores a se trancarem em casa e evitarem circular pelas ruas. Mario Sergio também determinou que os traficantes saíssem com as mãos para o alto e entregassem suas armas.

¿Não vamos recuar da decisão de pacificar o Rio. Estamos com tudo pronto para fazer o resgate deste território e chegando aos momentos finais para alcançar os traficantes que estão no Alemão¿, afirmou Duarte, que fez um apelo para que os criminosos se rendam. "Eu peço e ordeno para que eles se rendam. Quem quiser se entregar, faça-o agora", completou.

Desde o início dos ataques, no último domingo, pelo menos 38 pessoas morreram em confrontos no Rio de Janeiro.

Violência

Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis abordaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha, na altura da rodovia Washington Luis. Eles assaltaram os donos dos veículos e incendiaram dois destes carros, abandonando o terceiro. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer) que andava em velocidade reduzida devido a uma pane mecânica. A quadrilha chegou a arremessar uma granada contra o utilitário Doblò. O ocupante do veículo, o sargento da Aeronáutica Renato Fernandes da Silva, conseguiu escapar ileso. A partir de então, os ataques se multiplicaram.

Na segunda-feira, cartas divulgadas pela imprensa levantaram a hipótese de que o ataque teria sido orquestrado por líderes de facções criminosas que estão no presídio federal de Catanduvas, no Paraná. O governo do Rio afirmou que há informações dos serviços de inteligência que levam a crer no plano de ataque, mas que não há nada confirmado. Na terça, a polícia anunciou que todo o efetivo foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Foram registrados 12 presos, três detidos e três mortos.

Na quarta-feira, com o policiamento reforçado e as operações nas favelas, 15 pessoas morreram em confronto com os agentes de segurança, 31 foram presas e dois policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) se feriram, no dia mais violento até então. Entre as vítimas dos confrontos, está uma adolescente de 14 anos, que morreu após ser baleada nas costas. Além disso, 15 carros, duas vans, sete ônibus e um caminhão foram queimados no Estado.

Ainda na quarta-feira, o governo do Estado transferiu oito presidiários do Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio, para o Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná. Eles são acusados de liderar a onda de ataques. Outra medida para tentar conter a violência foi anunciada pelo Ministério da Defesa: o Rio terá o apoio logístico da Marinha para reforçar as ações de combate aos criminosos. Até quarta-feira, 23 pessoas foram mortas, 159 foram presas ou detidas e 37 veículos foram incendiados no Estado

Na quinta-feira, a polícia confirmou que nove pessoas morreram em confronto na favela de Jacaré, zona norte do Rio. Durante o dia, 200 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) entraram na vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, na maior operação desde o começo dos atentados. Os agentes contaram com o apoio de blindados fornecidos pela Marinha. Quinze pessoas foram presas ao longo do dia e 35 veículos, incendiados.

Durante a noite, 13 presidiários que estavam na Penitenciária de Segurança Máxima de Catanduvas, no Paraná, foram transferidos para o Presídio Federal de Porto Velho, em Rondônia. Entre eles, Marcinho VP e Elias Maluco, considerados, pelo setor de inteligência da Secretaria Estadual de Segurança, diretamente ligados aos atos de violência ocorridos nos últimos dias. Também à noite, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, assinou autorização para que 800 homens do Exército sejam enviados para garantir a proteção das áreas ocupadas pelas polícias. Além disso, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, anunciou que a Polícia Federal vai se integrar às operações.

Na sexta-feira, a força-tarefa que combate a onda de ataques ganhou o reforço de 1,1 mil homens da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército e da Polícia Federal, que auxiliaram no confronto com traficantes no Complexo do Alemão e na vila Cruzeiro. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, a polícia permanecerá nas favelas por tempo indeterminado. A troca de tiros entre policias e bandidos no Complexo do Alemão matou o traficante Thiago Ferreira Farias, conhecido como Thiaguinho G3. Uma mulher de 61 anos foi atingida pelo tiroteio na favela e resgatada por um carro blindado da polícia. Foram registrados quatro mortos e dois feridos ao longo do dia. Um fotógrafo da agência Reuters foi baleado no ombro e hospitalizado.

Na parte da noite, o Departamento de Segurança Nacional (Depen) confirmou a transferência de 10 apenados do Rio de Janeiro para o presídio federal de Catanduvas (PR). Também à noite, a Justiça decretou a prisão de três advogados do traficante Marcinho VP e a Polícia Civil anunciou a prisão de sua mulher por lavagem de dinheiro.

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